quarta-feira, 12 de novembro de 2008

eXtinto – O Mais Fraco

wuthering

Ele estava indo para o colégio, como todos os dias da sua tediosa vida, em sua cabeça um turbilhão de pensamentos o elevavam as nuvens, ele nunca realmente prestava atenção nas coisas a sua volta, mas isso nunca o havia prejudicado. No ônibus, se encontrava de pé com os fones de ouvido tocando suas mesmas músicas favoritas, isso enquanto olhava para a paisagem do lado de fora passar rapidamente. Na sua cabeça pensava em si mesmo, na verdade não exatamente em si mesmo, pensava no quanto era fraco em relação aos outros, não que fosse uma pessoa influenciável, mas era alguém apagado, que não parecia fazer tanta diferença, isso não o deixava exatamente triste, mas incomodava.

O ônibus finalmente chega no colégio e começa o seu rotineiro dia de aulas que ele usava para dormir, mas mesmo assim conseguia tirar nostas boas. Ele não falava com muitas pessoas, talvez fosse alguém antipático, ou talvez simplesmente não se sentisse motivado para se comunicar com aqueles seres que em sua concepção eram extremamente burros. Tinha uma amiga, ela e ele conversavam muito sobre diversas coisas sem real utilidade.

Bom, na verdade, nada da vida dele seria importante para compreender o que viria agora, ou talvez fosse essêncial, tudo depende do ângulo em que se vê a situação. Ele era nascido no dia 7 de setembro, pertencia ao signo de virgem que tem como elemento regente o ar, ele até que era ligado nessas coisas esotéricas, mas nunca tinha dado muita bola antes. Se encontrava agora indo sozinho para um parque que havia no meio do centro da cidade, um lugar calmo e tranquilo no meio do caos, naquele horário era mais calmo ainda já que os frequentadores preferiam ir de manhã. Mas o fato é que ele sempre teve facínio pela noite, algo que queimava dentro dele e nem ele entendia direito.

Estava lá, entre as árvores, sentado em um banco pensando como sempre, talvez esse fosse o seu maior defeito: pensar demais. Mas em um determinado instante algo tirou a sua concentração, um fluxo de ar estranho e peculiarmente gelado. Ele olhou ao seu redor, mas não notou nada de anormal, até que por fim percebeu uma sombra se aproximando do seu banco, era um garoto mais ou menos da sua idade que se aproximava, tinha os cabelos lisos e olhos castanhos igual aos dele, na verdade eram muito parecidos, mas o sorriso do que se aproximava era o que os diferenciava.

O garoto simplesmente se sentou ao lado dele como se não houvesse mais nenhum banco no parque vazio, e de pronto veio a sua cabeça que aquele garoto queria algo com ele, não sabia exatamente o que, mas não sentia medo dele, por mais medroso que comumente fosse, ele sentia apenas angustia com a presença daquele menino ali.

“Se você acha que sua vida não está boa, ainda não viu nada.” – Disse o garoto com um sorriso no rosto e um tom sarcástico na voz.

“Mas o que você está dizendo? Afinal, quem é você?”

“A pergunta certa não é quem sou eu e sim o que eu sou pra você, todos os seus sonhos, sinto que eles não poderão se realizar, porque a nossa existência em conjunto nesse mundo é inviável, o destino de um sempre irá interferir no do outro e eu vim pôr um ponto final nisso.” – O garoto agora vira o rosto e passa a encarar ele, ainda com o sorriso no rosto.

Ele não costumava pensar na lógica das coisas, simplesmente aceitava os fatos e continuava do aonde havia sido lançado o último dado e foi isso que ele optou por fazer nesse momento.

“Como eu poderia interferir no seu destino sem nunca ter cruzado o seu caminho antes?”

“Você ainda não tem idéia de quem é e isso facilita e muito o que eu devo fazer, mas saiba que eu gosto de você e por isso te darei uma explicação. Nós estamos ligados por uma força maior e somos os opostos dessa mesma força, eu sei disso porque o lado que eu me encontro dessa força que partilhamos sempre é despertado primeiro, isso é meio que uma regra, então desde pequeno eu sei para o que vim, você já não, só se daria conta se necessitasse despertar a sua força, mas você nunca precisou. Assim que nascemos as nossas vidas foram unidas, você teve um infância privilegiada e comigo teria q acontecer o oposto, então eu sofri todas as injúrias desse mundo quando era pequeno, não propositalmente por sua causa, mas ainda assim você teve influência nisso, por isso que a partir de certo ponto eu tive que começar a interferir na sua vida para mudar a minha e agora você já pode associar todos os fatos trágicos que ocorrerram com você à mim, sua tristeza causava a minha felicidade e vice-versa. Mas como eu disse, não era nada proposital, foi apenas o destino, mas agora terei que te matar para ter a plenitude.”

“Me matar!?” – Ele se assustou com a última fala do garoto e se levantou tentando se afastar O garoto levantou também e agarrou o seu braço.

“Não queria ter que fazer isso, eu gosto de você, mas é necessário, você já teve os seus dias de glória, agora é minha vez.” – Os olhos do garoto se tornaram negros e seus cabelos começaram a esvoaçar, então uma rajada de ar negro supriu do chão e antigiu o outro em cheio, fazendo o voar longe e cair no chão.

Ele sentiu uma enorme dor no seu corpo com o choque da colisão.

“O que foi isso?”

“Você ainda está respirando então? Isso é o poder que nos liga, tanto eu quanto você somos parte de uma enregia deste mundo, a nossa é a energia dos ventos. Todos os elementos podem tanto ser bons quanto ruins, no caso eu seria o ruim, mas se engana em pré-julgar o ruim como algo que só faz o mal, não é isso. O ruim serve para limpar as coisas que não estão certas desse mundo, assim como o bom tende a transformá-las. Mas agora vamos parar de falar.”

Ele então sentiu o ar se esvair de seus pulmões, aquele garoto que se dizia controlar o ar estava o asfixiando sem nem encostar a mão nele. Sentia sua vida por um triz, começou a pensar nela neste instante, já que iria morrer, queria pelo menos ter tido a certeza que teria valido a pena. Mas o que concluiu foi que não tinha feito diferença nenhuma sua vida aqui, não tinha tido a competência para ter concretizado nenhum de seus sonhos e isso foi o inundando com uma profunda tristeza, ele não queria ir, não queria desistir, tinha que tentar fazer pelo menos algo certo por si mesmo uma vez.

Foi então que sentiu ,vindo de seu coração, uma energia quente e um sentimento de paz, por um momento achou que aquilo fosse a morte, mas viu que tinha conseguido retomar o fôlego. Estava de pé e uma enorme aura branca o encobria, assim como seu olho estava branco também.

Ele encarou o garoto e decidiu naquele instante que seria alguém que faria alguma diferença naquele mundo e não seria apenas mais um. Uma enorme rajada de vento foi de sua direção até a do garoto que o pegou de supresa e o fez voar longe caindo de cabeça no asfalto do parque, uma grande lufada de vento negro saiu de seu corpo e sumiu no espaço, a aura branca voltou para o corpo do outro que foi correndo na direção do garoto para socorrê-lo, jamais tinha tido a capacidade de machucar alguém.

E assim ficou àquela noite, a vista de um parque solitário com dois garotos, uma mancha de sangue e grandes tempestades de vento.

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